Eu também fui daquelas "resistentes" que ouvi o debate no "Prós e Contras" até ao fim. Mesmo sabendo que no outro dia tinha que estar a trabalhar bem cedo, a alguns quilómetros de casa, depois de ter levado a Mariana ao infantário, e mesmo já tendo o meu voto decidido, não podia perder. Queria ouvir a opinião contrária à minha (porque o faço sempre antes de uma decisão)para mudar (qui ça, mas neste caso seria difícil) ou para solidificar ainda mais a minha. Claro que ouvi "coisas ridículas" (na minha modesta opinião, pois claro) dos dois lados. Mas também ouvi argumentos que até já tinha escrito aqui no meu blog mas ainda não tinha ouvido.
Gostei de me ter mesmo distanciado duma opinião e ter 100% de certeza do que vou votar. Ainda me ri um pouquinho com a (pouca) convicção que algumas pessoas disseram algumas coisas em que não acreditam (porque eu respeito opiniões contrárias quando se vê que é assim a sua convicção, mas quando se vê ou que não sabem do que estão a falar ou que não é por verdadeiro interesse na questão, fazem-me rir).
E ri-me também com este texto: "Por que fiquei baralhada depois do debate Prós e Contras de ontem" em http://paisifilhos.blogspot.com (continuo sem conseguir linkar). Porque as coisas sérias também podem ter humor.
E então aquela da Cátia G. está demais. Porque eu também quero pessoas jovens que tratem de mim, mas não é com este referendo que vamos conseguir isso. Quer votemos sim ou não.
E eu gostava bem mais que essa nova geração fosse amada e desejada mas também não é com este referendo que vamos decidir isso.
E continuo a achar que defender a vida não é um argumento porque segundo percebi, o não e o sim, estão pela vida e são contra o aborto. Mas (mais uma vez) o que se vai decidir é se se acrescenta uma alínea no código penal, às outras situações legais que já existem para abortar (Com as quais se somos pela vida, também não devíamos concordar. Porque essa lei "mata" seres saudáveis "só" porque são filhos de uma violação ou seres com deficiência. E essas não são vidas?) Quem defende a vida também nestes casos de violação e serers deficientes, quem defende todo e qualquer tipo de vida, pode ter motivos para votar não. Porque quem vota não com a justificação que é pela vida e exclui estas vidas, para mim deixa de ter esse precioso argumento.
Eu sou pela vida mas por uma vida plena. Com o direito aos pais decidirem se querem ter um filho deficiente, à mãe decidir se quer ter um filho vítima de uma violação,(a decidir em caso de perigo de vida para a mãe mas acho que isto nem se põe em questão), e até se os pais querem ou não ter esse filho. Claro que o ideal seria que acabassem os abortos, mas isso é utópico. E eles não irão acaber por se deixar estar a lei como ela está. Estes 23 anos tem sido a prova disso.
Nós podemos mudar uma alínea que pode fazer a diferença. Essa alínea diz que podemos permitir às mulheres deixarem de morrer pelas más condições em que realizam os abortos (continuo a achar que um problema de saúde pública como este, merece mais). Podemos permitir que uma mulher se dirija a um estabelecimento público para abortar e saia de lá aconselhada por médicos, psicólogos e outros profissionais que até lhe poderão fazer voltar atrás (quem não pensaria ainda mais vezes se pudesse ver o embrião a mexer e com o coração a bater?)ou não.
Podemos conseguir diminuir os gastos em tratamentos de infecções complicadíssimas com que cerca de 5000 mulheres por ano entram em instituições de saúde decorrentes de prácticas de "carnificina" ( e já agora nunca nenhuma mulher morreu em Portugal decorrente de aborto nas situações lícitas).
Claro que, como foi dito no debate, o aborto é moralmente condenável. Mas o incesto, algumas drogas, etc (não me lembro dos outros exemplos dados) também o são, mas não são puníveis por lei. São duas coisas diferentes. E pelo que vi no debate (quase)ninguém quer penalizar as mulheres. Então a pergunta é, se em direito penal, as queremos penalizar. Se não queremos, porque votamos não? E não me venham dizer que a pergunta está mal feita, porque é esta pergunta que temos, e para mim, esse argumento é fugir à questão.
Essencialmente porque temos uma oportunidade de mudar as condições e resolver um problema de saúde pública, vou votar sim. Sim à despenalização da interrupção voluntária da gravidez por opção da mulher (e da família e/ou marido/companheiro) até às 10 semanas (este prazo só interessa ao sim, visto que o não só discute o facto de ser a favor da vida e nem discute a despenalização, certo?) em estabelecimento de saúde legalmente autorizado (aqui é que está a chave do início da resolução do problema).
Claro que vencendo o sim, muito ainda haverá a fazer. Mas continuando com o não, partimos muitos passos atrás para a resolução deste problema.
Mas convicta que este sim será um passo em frente para a diminuição do número de abortos e da mortalidade e morbilidade das mulheres em Portugal, dia 11 lá estarei a colocar a cruz. Mas sempre sem falsas esperanças que o aborto deixe mesmo de existir.
A tentativa de alcance da utopia por vezes não nos deixa arregaçar as mangas e pôr mãos à obra. E do pouco, se faz muito.