Porque todos os dias são dias de dizer Amo-te (1)
Querida F.
Sempre me lembro de ti. Desde que sou gente. Talvez a primeira memória que tenha tua seja da altura dos meus 3 anos. Eras linda como uma bonequinha, calma, serena. Roçavas uma perfeição que eu admirava. Lembras-te dos memés e das nossas brincadeiras cá fora? De dormirmos as 5 a atravessar na cama? E o Juca. O pão sem nada. Os lençóis da cama esticados até à exaustão. As festas de 31 de dezembro, ano após ano.
Crescemos como primas-irmãs. Admirava-te tanto como talvez tu a mim. Gostava de te ouvir dizer que eu era boa em tudo. Admirava a forma como desenhavas, a perfeição com que desempenhavas todas as tarefas. E odiava-te também. Porque faltavas às festas dos meus aniversários e afins. Tudo pela patinagem. Que eu tanto invejava por te roubar de mim. Crescemos. Juntas. Primas. Irmãs. Cada vez mais. Cúmplices. Amigas.
Adolescentes, a mesma escola. Amigos que se partilham, histórias inesquecíveis.
Coimbra acolheu-nos e quis o destino que partilhássrmos todos os dias as mesmas escadas. Chás quentes e longas conversas. Momentos imortalizados em papel e nos nossos corações que estavam unidos para sempre.
A primeira grande perda. Que nos partiu o coração. Papá de uma, tio-papá da outra. Ele que te amava como filha, que se orgulhava de ti e tantas vezes me transmitia esse amor arrebatador.
E naquele dia 7 de Setembro, a perfeição. Tu. Linda de morrer. Feliz. Tantos planos. No dia 7 de Junho. Eu. Talvez linda de morrer. Feliz. Tantos planos.
E as princesas, uma atrás da outra. Como nas longas conversas. Aquelas que sonháramos horas a fio.
E o sofrimento também. O que não devia ter sido assim. Os erros, os sonhos nunca realizados.
E hoje, dia em decido dizer que te amo porque todos os dias são dias de dizer "amo-te". Só porque sim. Ou talvez não. Estou aqui, sempre pronta. Para o bom, que o mau já passou. Para te abraçar de felicidade, te limpar as lágrimas duma alegria contagiante e sorrir na mesma direcção. Talvez a vida nos separe todos os dias, e nos una nos bolachas decoradas, nos filmes das noites intermináveis, nas mãos que se dão. Nestas palavras. Talvez este hoje, seja ainda um ontem e já um amanhã. Certeza que serás sempre minha. Minha prima-mana. Amo-te.