Agora mesmo, estava a dar uma reportagem sobre canhotos. Claro que dadas as circunstâncias, o tema prendeu-me à Tv. Nunca me passou pela cabeça que a minha filha seria canhota. Achava até que os canhotos eram assim seres estranhos que viviam muito longe de nós. Conhecia muito poucos, que até foram obrigados na escola a usar a mão direita. Daquelas histórias de lhes prenderem a mão esquerda e outras relíquias de tempos passados. E eu até cresci a ouvir dizer que não se devia contrariar os canhotos, visto que tenho em casa uma mãe professora de ensino especial. Que sempre nos ensinou a lidar com todas as diferenças.
Bem, a verdade é que sempre alimentei uma esperança que a miúda começasse a perceber as vantagens da mão direita. Mas com o tempo, a miúda foi tomando a esquerda como a mão principal. Ainda escreve e pinta com as duas. É vê-la a meio duma frase ou pintura, a mudar o lápis de mão. Torna-se divertido até, observá-la. Nas férias escrevemos uns postais e ela assinou uns com a mão direita, outros com a esquerda. À vontade dela, pois claro, que eu sou uma mãe preocupada mas moderna. Eheheh. Mas depois foi lindo escrever no postal qual a mão que ela usou. Na verdade, escreve tão perfeito com uma, como com a outra. Apenas inverte algumas letras, de vez em quando, quando escreve com a esquerda. Corta com a direita, porque já viu que sai mais perfeito e lhe dá mais jeito.
Eu sei escrever com as duas mãos. Na faculdade chegou a ser uma vantagem para mim. Quando tínhamos testes em dias de aulas, eu nunca faltava para estudar. Escrevia com a direita o que os profs diziam. Sublinhava e fazia pequenos apontamentos com a esquerda, ao mesmo tempo. Utilizo a mão esquerda em muito muito mais actividades que a maioria dos dextros. Mas só isso.
E quando vejo canhotos, fico de boca aberta e normalmente aproveito para fazer umas perguntinhas. Eu, maravilhada a olhar para as pessoas como se fossem extraterrestres, a perguntar o que já lhes devem ter perguntado quinhentas mil vezes, mães como eu, noutra década. Sim, porque hoje em dia, devo ser a única pessoa no mundo que repara nos que escrevem com a "outra mão".
Na dita reportagem, falavam em nomes sonantes da nossa sociedade e diziam até que provavelmente os canhotos tinham facilidade de aprendizagem e eram pessoas inteligentes. Não ponho em causa, mas confesso que no início pensava que seria uma desvantagem para ela usar a mão contrária aos comuns dos mortais. Não pelo uso da mão em si, mas por o que isso implica em termos de dominância dos hemisférios cerebrais.
Na reportagem, duas meninas brincavam. Sorriam. Diziam adeus. Com a mão esquerda. Tão diferente. Tão igual.
No fim disto tudo, o que me deixa menos tranquila? É o que costumo responder quando alguém me pergunta porque fico tão inquieta por saber que ela é canhota:
o mundo está todo ao contrário para ela.
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