quarta-feira, novembro 04, 2009

Como uma situação sem jeito nenhum, reflete o que somos (e queremos)

Quando cheguei a casa, as miúdas tinham estado a pintar com as 24 canetas (laváveis, pois claro), que costumo guardar religiosamente. E porquê? Elas têm mais canetas (todas laváveis, é claro), mas estas são melhores e estão completas. E tenho sempre o cuidado de as guardar. Para que possam ter as 24 cores quando as quiserem (claro que quando forem mais velhas quererão mais cores, mas para já chegam).
Hoje cheguei e estava o caos instalado. Já só via tampas por todo o lado, e das canetas nem rasto. Antes de deitar informei a Mariana que iríamos procurar as canetas. Não queria. Avisei-a logo do preço a pagar, se não ajudasse. Fez uma birra, bateu-me, e eu claro, tive que lhe mostrar o lugar dela. Passado um bocado veio em lágrimas pedir-me desculpa. Abracei-a, desculpei-a, mas expliquei-lhe que as canetas iriam mesmo para outros meninos que não têm nenhumas. Ela tem que perceber que cumpro mesmo, os castigos.
Claro que depois de um pouco de imaginação, achei 23 canetas e 26 tampas (tampas a mais, das tais canetas que andam todas desemparelhadas). Algumas estão dentro de brinquedos, que a Matilde acha o máximo escondê-las lá. Faltava uma caneta, que se ficasse sem tampa passaria a não escrever. Pedi ajuda ao Pedro. Claro que fingiu que a procurou, e depois quando lhe pedi novamente ajuda, recusou. Que estava cansado para procurar uma simples caneta. Pois para mim não é uma simples caneta. É uma das 24 que guardo, para que nunca falte nenhuma dessas cores. Perder uma caneta não é um drama, mas querer pintar de determinada cor e não a ter, é.
Voltei a procurar, baixando-me para olhar sob todos os móveis.
Claro que, como me custa muito baixar, porque faço mal a digestão, estou super mal disposta. Mas achei-a. Dentro do sítio onde se põem cassetes, numa aparelhagem antiga, que temos lá num canto da casa. Enfim. Grande ginástica que a Matilde faz, a esconder tudo.
Apareceu e assim, quando as minhas filhas quiserem pintar o céu, o azul claro vai estar lá, como novo.
Dizem que sou demasiado sensível. Exigente. Sou. Era uma simples caneta. Mas cresci a aprender a valorizar até as pequenas coisas. Seria mais fácil comprar outra caixa de canetas. Quaisquer 5 euros chegariam. Pois. Seria. Mas eu não estrago. Pelo menos, conscientemente.
Entre outras coisas, o meio ambiente agradece.
E a Mariana, enquanto lhe desejava boa noite, pediu-me:
-"Mamã, as canetas que vais dar aos meninos que não têm, podes tirar uma para mim?"
Expliquei-lhe que logo se veria. Que lhe tinha explicado bem qual era o castigo. Assentiu. E partiu-me o coração. Queria dizer-lhe que podia ficar com todas, mas isso seria o mais fácil. E educar nunca o foi. (E já agora, tenho que aproveitar para educar o pai também, que pelos vistos, prefere estragar a cansar-se).
Uma das coisas que se falou na reunião da escola dela, foi que este ano, cada um tem a sua caixa de lápis de cor. Para aprenderem a tomar conta das suas coisas. Se perderem algum, deixarão de ter aquela cor. E é essa responsabilidade que lhes pretendo incutir. Mas ajudando, pois claro.

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4 Comments:

At 4/11/09 23:37, Blogger Jane said...

essa forma de pensar é muito aquilo que pretendo para mim, quando for mãe. acredito que custe muito, mas também acredito a importância e a diferença que irá fazer no futuro. *

 
At 5/11/09 08:23, Blogger Ália said...

Olá...
Desculpa a invasão mas não poderia deixar de comentar este post. Lá por casa também é mais fácil para o pai dizer "compramos mais". Eu sou chamada de picuinhas... Não me importo, sei que estou a fazer o melhor.
Beijinhos e parabéns por seres assim.
Ália

 
At 5/11/09 16:37, Blogger rita said...

Um exemplo a seguir, sem dúvida.
Parabéns.
Bjs

 
At 5/11/09 18:41, Blogger Butterfly said...

Muito bem... acho que agiste muito bem... As crianças têm que perceber que não podem sempre fazer tudo...

 

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