quarta-feira, julho 30, 2008

Finalmente o parto ( post muito longo)

Fiz a inscrição e expliquei que estava com contracções de 2 em 2 minutos. A Sra disse-me que se quisesse, que tocasse à campaínha para entrar mais rápido. Disse-lhe que não porque as dores eram perfeitamente suportáveis. Chamaram-me para a triagem onde fizeram os procedimentos do costume e meteram-me a pulseira amarela (e eu a ler o quadro da triagem e a ver que a cor amarela correspondia a eventuais internamentos). Eu fui ali ao hospital para não arriscar a ir para Coimbra com contracções de 2 em 2 minutos (a enfermeira disse-me para ir com contracções de meia em meia hora) .E porque era tarde para ir para Coimbra, correndo o risco de chegar lá e não estar em trabalho de parto e ter que vir novamente para casa (é uma hora de caminho para cada lado). Para além disso estava preocupada com o Pedro que tinha que ir trabalhar no dia seguinte e se fosse ali em Leiria era mais perto para ele. Até porque agora no hospital de Leiria já há epidural a toda a hora e isso descansava-me (nem eu sabia o que ia acontecer...).
Ainda não tinha saído da triagem já estavam a chamar-me para o gabinete médico. A médica, nova, perguntou-me porque estava ali e eu falei-lhe das contracções mas que sabia pela intensidade da dor que não estava ainda em trabalho de parto. Que estava ali apenas para não arriscar porque do parto da Mariana tinha feito a dilatação muito rapidamente. Ela disse-me que não percebia porque é que eu estava com aquela conversa, porque se pensava que ela me ia deixar ir para casa, estava enganada. Dali já não saía. E eu a pensar que ela me ia mandar andar ou coisa do género. Ok, como ela quisesse. Observou-me e disse-me que eu estava com 2 cms de dilatação (que eu já tinha desde a consulta da tarde) e portanto o organismo estava a preparar-se para entrar em trabalho de parto. Disse-me que me ia internar e fez-me uma série de perguntas sobre tudo e mais alguma coisa (outro parto, sobre nós, gravidez, etc). Disse-me que ia também mandar fazer análises. Esqueci-me de lhe dizer que queria epidural. Ela disse-me para mandar o Pedro embora e para ele deixar apenas as roupas de 1º dia. Que ele podia levar a outra mala e trazer quando voltasse no outro dia (supostamente ela só nasceria lá para a manhã seguinte. Ahahah). Fui lá fora falar e despedir-me do Pedro e da mana Vera. Disse-lhes que lhes ligava a dizer qualquer coisa quando me observassem novamente. Veio uma enfermeira buscar-me. Disse-lhe que queria epidural e ela disse-me que depois das análises e quando entrasse em verdadeiro trabalho de parto com 3 cms me dariam. Ok. Veio a auxiliar ter comigo ao quarto e mandou-me arranjar a roupinha para a M. e vestir uma camisa de dormir. Pedi para ir à casa de banho e quando voltei preparei a água termal e o elástico para o cabelo e a uma enfermeira veio preparar-me para me monitorizar e colher sangue. Fiquei admirada por ela me mandar deitar. Pensava que podia andar pelos corredores. Lá me deitei e ela mandou-me desligar o telemóvel. Tratou de tudo e deixou-me lá sozinha, dizendo que estavam lá dentro na sala a ver o meu ctg, que se houvesse alguma coisa que viam lá dentro. Era uma e pouco da manhã. Liguei ao Pedro à 1h 30 a dizer para eles se irem embora porque ninguém me tinha vindo observar e eu não tinha dores de trabalho de parto embora começasse a ter umas dores nas costas por estar deitada de lado (em Coimbra deixaram-me estar de barriga para cima). Era 1h 35m. Eles foram embora. Passados 5 minutos rebentam as águas e eu disse à auxiliar que foi lá desconfiada espreitar. Disse-me que era possível que sim e foi chamar a médica. Comecei a ter muitas dores, principalmente porque duravam cerca de 4 minutos e tinham cerca de 30 segundos de intervalos. E começavam nas costas. Lá fui fazendo uma massagem a mim própria nas costas e ia sentindo algum alívio. Na barriga, a dor era mais suportável. Passados 10 minutos a médica apareceu e já sabia de tudo o que se passava. Uma coisa que reparei foi que desde a médica às auxiliares todas sabiam em que fase me encontrava e tudo o que se passava. A médica perguntou-me se tinha xixi e como eu tinha, mas não conseguia fazer, pôs-me a sonda que senti, mas não doeu. Disse-me que tinha muito. Observou-me e disse-me que estava em trabalho de parto com 3 cms. Era 1h55m. Pedi a epidural e ela disse-me que tinha já os resultados do hemograma mas que faltavam as provas de coagulação. Como as análises demoravam meia hora e só tinham ido há 20 minutos ainda tinha que esperar 10 minutos. Ok. Ia tentar aguentar porque as dores estavam muito fortes. Lá fui fazendo as respirações, borrifando com água termal e fazendo a massagem nas costas durante os 10 minutos. Esperei mais 5 minutos e toquei à campaínha. Estava com contracções já sem intervalo e estava a ser difícil recuperar. Veio a auxiliar que disse que ia ver se já tinham chegado as análises. Passados 5 minutos (2h15m) chamei outra vez porque ninguém me dizia nada. Veio uma auxiliar que me disse que se não tinham dito nada era porque as análises ainda não tinham vindo que elas não tinham prazer em ver as pessoas sofrer. Foi a única pessoa arrogante. Eu lá lhe expliquei que me estava a descontrolar com as dores mas ela não me disse mais nada. Passados 5 minutos comecei a ter uma vontade incontrolável de vomitar, tal eram as dores. E não tinha intervalo entre contracções. Chamei e trouxeram-me um saco. Assim que mo puseram à frente, passou-me a vontade. Lembro-me de pensar que devia ter adoptado em vez de estar a passar por aquilo e que nem pensar ter o terceiro filho. Entretanto mandaram-me ligar para o Pedro, para o chamar. Achei estranho e pensei que se há 20 minutos só tinha 3 cms de dilatação, não valia a pena acordá-lo para o chamar. Até porque ele devia ter acabado de chegar a casa e estaria a descansar. Mas lá o chamei. Disse-lhe com uma voz combalida que estava com muitas dores, insuportáveis. E só pensava quantas horas mais conseguiria aguentar aquelas dores. Veio uma auxiliar dizer-me que as análises tinham chegado mas que a anestesista estava no bloco e que viria assim que fosse possível. Eu sabia que a anestesia demorava cerca de 20 minutos a fazer efeito e estava desesperada com dores. Às 2.30 chega a anestesista e começa a explicar-me o que era a epidural e eu pedi desculpa, interrompia-a e disse-lhe que conhecia todos os procedimentos e se ela não se importava de ma dar logo. Ainda queria perguntar-lhe quanto tempo demoraria a fazer efeito, com esperança que ela me dissesse que era imediato mas nem conseguia falar. Ela vestiu-se à pressa e preparou tudo e disse-me que ia pondo o betadine. Pediu-me que não me mexesse a seguir mas eu estava com a contracção mais forte que tivera até então. Quase insuportável. E comecei a sentir um borbulhar dentro da barriga, como se a M. estivesse a descer. Ela espetou-me a anestesia tópica e disse-me para ficar quieta quando passasse a contracção para ela dar a epidural. Mas eu não conseguia, tal era a dor. De repente senti uma vontade incontrolável de fazer cocó, duas ou três vezes, e disse-lhe que já não valia a pena dar a epidural. Expliquei-lhe que estava com vontade de fazer força. Ela disse-me que não podia ser porque há meia hora (mais precisamente 35 minutos) tinha 3 cms de dilatação. Mas pelo sim, pelo não a enfermeira espreitou e disse-lhe:
-" Dra, para a sala de partos já. Ela tem a cabeça mesmo aqui. Não faça força que temos que chegar à sala de partos."
Encolhi as pernas e tentei controlar o incontrolável. Só pensava que o Pedro ia chegar e não ia ver a filha nascer. As dores já tinham passado e eu só tinha vontade de fazer força.
Arrancaram-me o ctg à pressa e a anestesista ia-me dizendo docemente que não me preocupasse porque não levava a epidural mas que a Matilde estava a nascer. Eu não acreditei que ela estivesse mesmo para nascer mas tranquilizou-me muito ela saber o nome da minha menina, e as palavras dela. Repetiu docemente:
-" Não se preocupe porque não leva a epidural mas a Matilde está mesmo a nascer. Viu que foi tão rápido? Ainda é melhor assim."
Levaram-me a correr para a sala de partos e gritaram para as médicas que estavam na outra sala de partos "esta vai nascer primeiro".
A enfermeira disse-me que ainda me queria dar um pouco de anestesia para me fazer a episiotomia. Ao mesmo tempo abre-se a porta da sala de partos e ouvi "Chegou o pai, mesmo a horas". Eu como no parto da Mariana entrou um pai, que não o da minha filha, olhei para trás e vi-o. Ele estava ali. Senti-me aliviada enquanto o via vestir a bata. A enfermeira espetou-me a anestesia e disse-me para fazer força a aproveitar uma contracção. Fiz força uma vez e ela disse-me que me estava a portar muito bem e quando ela me pediu que fizesse outra vez, eu comecei a preparar-me para fazer até ouvir:
-" Não faça mais. Ela já nasceu."
Via-a a rodar-lhe o corpito e senti aquela sensação indescritível da barriga a fazer ploft. Não sei se chorou. Puseram-na em cima de mim e só ouvi o Pedro felicíssimo a dizer que no outro parto não ma tinham posto em cima e que eu tinha tido muita pena disso. Ele estava feliz. Muito feliz. Notava-se no tom de voz. E acarinhou-me. E eu só me lembro de olhar para ela, muito branca e chorar e rir ao mesmo tempo. Chorei. Ri. Sorri. Arrepiei-me com a sensação. Era mãe pela segunda vez, e há três anos e uma semana que não sentia algo assim. Tão grandioso. Tão mágico.
Senti-me a pessoa mais feliz do mundo. A vida e o mundo valiam a pena, nem que fosse só por aquele momento.

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12 Comments:

At 30/7/08 14:52, Blogger Dianamãe said...

... é que é mesmo!
Se há sensações indescritivelmente belas e poderosas, ter um filho é de todas a mais intensa!

jinhos grandes

 
At 30/7/08 15:00, Blogger Laranja-Lima said...

E mesmo um momento UNICO e GRANDIOSO!
Beijinho

 
At 30/7/08 15:58, Blogger CLS said...

Reconheço isso tudo do parto da Mafalda .... contracções seguidas, sem intervalo, a sentir tudo nas costas (o meu gráfico das contracções mal subia pq o sensor estava na barriga e elas "atacaram-me" por trás!), da Camila não foi tão intenso.
É, é mesmo daqueles momentos em que a nossa existência faz sentido. Beijinhos.

 
At 30/7/08 16:08, Anonymous Anónimo said...

Olá, Patricia! Já alguns dias que não vinha aqui, porque o trabalho tem sido imenso.
Estive a ler, e estou comovida com a descrição do nascimento da Matilde.
É a coisa mais bela que nos pode acontecer, não há palavras, sentimentos que se consigam descrever, a emoção é enorme...
As dores transformam-se em nada, quando temos connosco a coisinha mais bela do mundo...os nossos filhos.
Agradeço a Deus por sermos nós mulheres a termos a felicidade de carregar-mos os n/filhos no nosso ventre e a tê-los, porque apesar do sofrimento, as sensações são nossas.
Tiveste um parto muito bonito.

Felicidades para vocês os quatro.


Marta - Trofa.

P.S. Obrigada por estares de volta, é muito bom lêr-te.
Desejo que estejas bem.

 
At 30/7/08 16:21, Blogger YupiE said...

Já me fizeste chorar...
Tudo o que escreveste é incrível...
De tanto te ler começo a sentir vontade de passar pelo mesmo (as dores é que passava de boa vontade!!!LOL)... a vontade de ser mãe já começa a ser sentida cada vez com mais intensidade, mas infelizmente não pode ser para já!!!
E viva o Hospital de Santo André que até se portaram bem!!! (É o único "monumento" que conheço de Leiria e felizmente que só tenho a dizer bem pois fui muito bem tratada aquando da minha "estadia"!!!
Beijinhos Gordos!!!

 
At 30/7/08 18:15, Blogger Unknown said...

É mesmo um momento mágico!
Fiquei com uma saudade...
Beijocas

 
At 30/7/08 18:46, Blogger Ana Rangel said...

Fiquei a chorar, pá!...

:)

 
At 30/7/08 19:30, Blogger coisascomgosto said...

Olá Patricia
Emocionei-me mt com o meu parto (gemelar) e fico sempre com uma lágrima ao recordar os momentos que passei. Ao ler este post, até fiquei arrepiada!!!!
Parabéns. É uma mulher com um M grande...muitos parabéns.
Bjs
Sandra

 
At 31/7/08 04:05, Blogger Beth said...

Fiquei arrepiada! Que forte que vc é! Eu com contrações de 2 em 2 min. já estava muito mal humorada, porque minha médica não chegava.

Parabéns pela Matilde tão linda e "risonha".

bjos

 
At 31/7/08 09:29, Blogger Mamã e Tesourinhos said...

Oi!
Que rápido! Ainda bem que correu tudo bem. Fiquei com uma lágrima a escorrer pela cara enquanto lia o teu post. (Que vergonha, estou a trabalhar num open space cheio de pessoas... LOL).
Parabéns!
Fica bem.
Bjs.

 
At 31/7/08 10:41, Blogger rutinha said...

agora mais que nunca, emociono-me ainda mais a ler este teu relato. Rezo que qdo for comigo seja assim tudo tão rápido como foi ctg :)
um beijinho.

 
At 31/7/08 12:03, Anonymous Anónimo said...

Ola Patricia!
Visito diariamente o teu blog e hoje dei por mim a chorar... achei lindissima a forma de como descreveste o parto.
Parabens!
Eu tambem tenho uma menina de 3 anitos, por isso gosto de vir aqui e acompanhar o teu blog.
Beijinho

 

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