segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Não é que alguma vez me vá esquecer, mas... (1º internamento e espero que último...)

Esta noite teve muita tosse. Notava-lhe também alguma dificuldade respiratória. Ventilan. Melhorou mas não passou a minha aflição. Bem acordada, relembrei aqueles dias. No internamento. Quando fui levar a Mariana à escola e fui com ela directamente ao SAP. Costumo ligar para o saúde 24. Não havia tempo. Nem era preciso auscultá-la para perceber que havia roncos em tudo quanto era pulmão. Esperei pouco para sermos chamadas. O suficiente para entrar uma mãe duma amiguinha do infantário que trabalha lá e ir mimá-la. Logo à entrada da consulta, a típica simpatia da médica que nos atendeu. A tirar as conclusões dela, à maneira dela. Expliquei bem que ela andava desde há umas três semanas ora melhor, ora pior. Que tinha dias em que estava bem. Que apenas tinha tido dificuldade respiratória desde o dia anterior mas tinha melhorado com o Ventilan. Mas que de manhã estava a piorar e que o Ventilan parecia não estar a resultar. Descrevi todos os sintomas detalhada e cronologicamente. Queria lá saber se a médica queria embirrar e dizer que ela estava com aquele dificuldade respiratória há 3 semanas. Era a interpretação dela. Eu bem sabia que a minha menina não estava bem e só queria que lhe fizessem a oximetria para me descansar (ou não). Finalmente percebeu e começou a consulta de novo. Com outra simpatia. Explicou-me que devia ter ido directamente ao hospital (e quando vou, alguém diz que devo ir sempre ao Centro de Saúde, mas enfim...)
Fui a "correr" com ela e com a carta. Quinze longos minutos. Não havia estacionamento. Estacionei demasiado longe. Aflita com ela ao colo e um saco com o Ventilan e aerochamber, fraldas, roupa, comida, brinquedos e afins. Como se um sexto sentido me dissesse que íamos precisar de tudo aquilo. Ela aflita, mas sempre com a Kitty, um cão e um bebé na mão. Eu aflita de esforço (de carregar aquilo tudo) e nervos. Sem telefone. Avariado, sem bateria. Um novo, ainda sem bateria também...
Chegámos, entreguei a carta da médica e ao fim de 20 minutos de comunhão de germéns com "dezenas" de crianças que lá estavam, levantei-me e fui perguntar se demorava ainda muito. Estava aflita, ela. que havia um problema com o computador e o nome dela podia até nem estar. Ia ver. Começam a chamar-nos. Entramos e a enfermeira e a estagiária que nos atendem, cairam do céu. Doces, calmas, eficazes. Que nem era preciso auscultá-la (mas fizeram-no, claro). Noventa e cinco de oximetria. 37,7º C. Ben-u-ron. assim que ouve essa palavra, começa a berrar:
-"Cocó mau, não. Não mamã."
Começa a admiração das enfermeiras (que ainda não tinham visto nada). Uma delas vem ajudar-me. Pulseira laranja (uma estreia, que dispensava) e ela a tentar arrancá-la. Disseram-nos que não fossemos lá para fora. Que esperassemos nas cadeiras dos meninos mais urgentes, que entraríamos de seguida. Só tive tempo de lhe arrancar a pulseira (que ela não parava de gritar que não a queria) e dar-lhe mama (entretanto era a hora que ela costuma almoçar na escola). Sentença: 3 máscaras de salbutamol e rosilan (onde é que eu já tinha visto aquele filme...). Perguntei se havia mais algum relógio na sala de espera, que aqule estava avariado. Disseram-me que visse as horas no telemóvel. Mas eu não tinha. Começo a imaginar: ela aos gritos, a fugir, três (máscaras) de tortura. Sempre a perguntar as horas para ver se já tinham passado os 20 minutos... Mas não. Nas máscaras esteve sempre sentadinha no meu colo. Meia prostrada mas atenta à história que lhe lia. Ia falando, fazendo perguntas e apontando. E havia outro relógio no lado de obstetrícia (era só levantar-me e ir espreitar). Depois da primeira máscara pergunto se não lhe dão o Rosilan e ninguém sabia de nada. O computador não funcionava. Andavam com papelinhos a perguntar o nome às pessoas. Mas que esperasse. Até que me perguntam se ela toma bem remédios. Claro que sim. Temos que fingir sempre que lhe damos também, todos os dias quando a Mariana os toma. E quando são os dela, pede sempre mais "umédio". Preparam o medicamento e eu digo que posso dar-lhe numa colher como costume. Que não é necessário seringa, que ela toma tudo bem. Mas ainda vou a tempo de perguntar se não lhe adicionam nada. Aquele é veneno. Quando a Mariana o tomou lá, acrescentaram chocolate. Que ela é pequena mas que lhe podem pôr groselha. E dar-lhe um chupa-chupa (Hello, ela tinha 18 meses, mas pronto, sempre dava para brincar...). O que quiserem desde que ela continue fã dos "umédios". Nada de lhe mostrarem que há "umédios" horríveis. Claro que para me contrariar começou a dizer que não queria e foi difícil dar-lho. E eu sempre com ela ao colo, saí e tentei ligar ao Pedro dum telefone de moedas. Atendeu uma colega, que ele estava ao telefone, não podia atender. Expliquei-lhe em breves segundos que estava no hospital com a Matilde e que lhe queria apenas pedir que ele passasse por lá à hora de almoço. Que não tinha mais moedas. Ela disse-lhe para ele atender que era mais ou menos urgente e ele atendeu-me com 3 pedras na mão. Depois lá percebeu a urgência. Saí de lá a chorar. Percebi que as máscaras não estavam a resultar. Nervos. Cansaço. Não tinha dormido nada e estava exausta. Ela olhou para a lágrima que teimava em correr e dizia-me:
-" Não chóia mamã. Páia." (Não chora mamã. Pára)
Eu lá lhe tentei mostrar que não estava a chorar. O Pedro chegou e fomos tentar dar-lhe comida no restaurante do hospital, que ela tinha passado a noite e a manhã toda a mamar. Deu o showzinho da fama dela. Pôs "toda a gente" a olhar para ela e a sorrir. Estava eléctrica. Mas não comeu nada. Só queria água e (o meu) colo. Fizemos a última máscara e esperámos. Esperámos. Esperámos. Ninguém nos chamava. Decidi entrar e perguntar. Explicar que estava cansada porque ela de 5 em 5 minutos queria mama e se podíamos ir para casa para ela descansar (só queria colo). (E mesmo assim, a certa altura desisti de andar coma tralha toda atrás, bonecos, sacos e casacos, que já não aguentava a minha coluna). Que tinha que esperar. Que ser mãe exigia sacrifícios (que engraçadinhas, a ensinar a missa ao papa). Eu lá fui pensando que exigia sacrifícios mas não era esperar por médicos que tinham ido almoçar e dormir a sesta. Mas calei-me. Apenas disse que sempre que tinhamos ido lá fazer o mesmo tratamento, nos chamavam no máximo depois de 30 minutos após a última máscara. Que ela estava a ficar incontrolável com a espera (tinha fome e precisava de dormir). E aqui já eu tinha perdido a esperança de ainda conseguir ir a Lisboa tratar de uns assuntos que precisava mesmo de tratar nesse dia. Ela não estava bem o suficiente para eu a deixar com alguém.
Entretanto a médica chamou-nos. Auscultou-a. Eu já tinha reparado que ela ainda não estava mesmo bem, mas como costumam mandar para casa e ir vigiando, nunca me passou pela cabeça o que a médica diria a seguir.
-" Esta rapariga não está nada bem. Vai fazer mais 3 máscaras. Aguarda pelo menos uma hora e volta depois."
Pensei em ir ter com o Pedro para lhe dizer, mas só a ideia de a pôr e tirar do carro várias vezes, fez-me mudar de planos. Já tinha os braços cansados. Estávamos já a entrar pela tarde e desde o início da noite que a tinha nos meus braços. Subi até ao carro e ficámos lá a brincar. Mudei-lhe a fralda, tentei dar-lhe um iogurte (tive que o comer eu) e fomos brincando. Descansei uns minutos os braços e passado uma hora e pouco fui novamente para o hospital para ela fazer as outras três máscaras. Com moedas restantes do almoço liguei ao Pedro a dizer para ele passar lá assim que saísse do trabalho.
Fez mais três e embora estivesse sempre mais ou menos sossegada, na última já tive que andar atrás dela com a máscara. Quando entrou a enfermeira estava eu de joelhos a segurar-lhe a máscara até onde o fio esticava. Começava a fase da electricidade novamente...
(Continua)

Etiquetas: ,

1 Comments:

At 15/2/10 16:49, Blogger Luz de Estrelas said...

Revejo-me nessa angústia... A Clara qdo foi internada marcava 87 no oxímetro. Quando melhorou, esteve dois dias com 93!Em casa, antes de a levar, já só dormia. Tinha sido vista três vezes nessa semana e o médico devia estar LOUCO, que não deu conta do terrível estado em que estava a miúda. Enfim, já passou. Beijos

 

Enviar um comentário

<< Home