segunda-feira, setembro 10, 2007

A minha avó

Já estava doente. Não andava sozinha mas ainda estava quase sempre muito lúcida. Há 2 semanas a minha irmã foi lá a casa a pedido do meu avô porque ela estava quase inanimada. Foi para o hospital onde lhe diagnosticaram uma infecção urinária. Fez a medicação mas não chegou a melhorar consideravelmente. Embora nos cohecesse, falava pouco e estava sempre com os olhos fechados. Na sexta feira, estive uma hora com ela e tivemos uma conversa normal embora ela me tenha dito que não queria morrer, estava bem. Eu disse-lhe que ela não morreria tão depressa porque tal como eu era ruim. Ela tinha medo de nos deixar, só falava nas meninas.
Disse-lhe que voltaria nesse dia se não saísse muito tarde do trabalho, ou no dia seguinte. Quando saí do trabalho ainda pensei em passar lá mas a Mariana também já estava à muito tempo "à minha espera". A minha prima estava a dar-lhe o jantar quando ela entrou em coma. Foi para o hospital. Para a emergência onde fomos chamadas pela médica para nos despedirmos dela com vida. Esperámos até à uma da manhã. A partir daí só nos dariam a notícia no dia seguinte às 7 da manhã. Rezamos muito por ela. Para se aguentar ou para partir em paz. Às 3 e meia da manhã ainda fui lá ao hospital perguntar mas disseram-me para ir descansar. Provavelmente já teria partido.
Despedimo-nos ontem do seu corpo. Vieram amigos de muitos lados. Pessoas amigas do meu pai, do meu avô e amigos dela. A família, claro. E muita gente que passou para nos dizer que ela era muito simpática. Ou que tinha sido como uma mãe.
Ninguém lhe reconhecia as feições de outrora mas todos realçavam o facto de estar muito bonita. De até "parecer uma rapariga nova". Aos 80 anos. E estava. Partiu vestida com a sua roupa favorita, bem maquilhada e com as unhas pintadas como ela gostava de estar. Rodeada de flores e rosas. As por ela adoradas rosas.
Foi difícil vê-la partir por ela, que no dia antes me tinha dito que não queria morrer, por causa de nós. Porque as 8 netas e bisnetas eram a vida dela. E desde a partida do meu pai ela nunca mais foi a mesma mas nós eramos a força e a vontade de viver dela.
Foi difícil também pelo meu avô que quarta feira faz 81 ano e fica sozinho naquela casa onde viveram quase sessenta anos juntos. Pela minha madrinha que viu partir a mãe. E eu nunca a tinha visto chorar. Sei que chora muito pelo meu pai, o seu menino, mas eu nunca tinha visto.
E por nós. Porque embora tenha tido uma vida longa, onde viu 2 filhos casaram e terem filhas, onde viu as netas crescerem, acabarem os cursos, trabalharem, casarem e terem filhas, nós esperamos sempre mais. A minha última avó a partir. A última bisavó da minha filha. A mãe do meu pai.
Partiu linda e rodeada de amigos como ela gostava. Partiu para céu para ao pé do seu filho por quem ela todos os dias chorava. Mais uma estrela a brilhar por nós. Até um dia avó.

Etiquetas:

4 Comments:

At 10/9/07 15:22, Blogger SCAS said...

A dor da partida é a que mais dói... porque é uma separação sem data para reencontro, porque é uma saudade que nos vai ficar para sempre, porque é uma falta, um vazio, um buraco na nossa vida que nunca ninguém poderá preencher. Falo porque sinto essa dor desde que a minha melhor amiga de todo o sempre, alma-gémea, irmã de afecto, agora anjo da guarda, partiu precocemente aos 26 anos num acidente brutal... Dói, porque foi numa hora que não devia ser a dela... Ao menos, a ti, que te conforte o saberes que a tua avózinha vos acompanhou por tantos e tão bons anos! Que Deus a guarde no céu, como tu a guardarás no coração!

 
At 10/9/07 16:47, Blogger Sara CS said...

Um beijinho.

 
At 11/9/07 17:33, Blogger YupiE said...

Muita força...Um grande beijinho no teu coração...

Lília

 
At 12/9/07 11:43, Blogger Unknown said...

Força minha linda.
Como compreendo a tua perda...
MAs é como dizes, mais um anjo a olhar por todos.
Beijos para toda a família

 

Enviar um comentário

<< Home