Outro ponto de vista

Não consigo pensar como a maior parte das pessoas em relação àquele pai que deixou o bebé no carro. Tenho pensado muito nisso. Porque desde que a Matilde nasceu ando sempre mais alerta para ver se não me esqueço de nada ou de nenhuma delas. Sim, passa-me isso pela cabeça. Que alguma vez possa fechar a porta antes de tirar a miúda de casa ou algo do género. Porque ando sempre a correr e as rotinas nem sempre são assim tão rotinas. Porque tenho trabalhos, exames, ou reuniões extra e alguma vez posso "passar-me". E acho que foi isso que aconteceu àquele pai. Os pais que maltratam não o fazem desta maneira, pelo menos de propósito. Só pode ter sido um acidente. E quem disser que nunca lhe acontecerá, só pode estar equivocado. Porque pode acontecer-lhe isto, ou deixar as crianças a brincar ao pé do mar ou deixá-los cair de uma varanda abaixo. Infelizmente, tudo isto nos pode acontecer também a nós. Tenho muito medo. E lamento. Lamento pelo bebé que é pouco mais velho que a minha pequenina. Lamento pela irmã que é pouco mais velha que a Mariana. Por aquele pai que nunca mais vai ter uma vida "normal". E pela mãe. Aquela mãe. Nem consigo imaginar. E penso que também aquele casal terminou. E não posso deixar de lamentar a perda de uma família. Mas compreendo. Também não sei se conseguiria perdoar. Isto mexeu muito comigo. e não deixo de pensar que se tivesse sido naqueles dias horríveis de Inverno puro, a criança podia ainda estar viva.
Espero que aquele pai consiga encontrar um caminho e aquela criança possa descansar em paz. Lamento tanto.