quarta-feira, abril 23, 2008

Surrealismo em pleno dia (até podia ter sido ou sonho ou pesadelo mas não foi)

Pois o que me aconteceu hoje, podia até ter sido tirado de um filme. Se me contassem, teria dificuldade em acreditar que fosse mesmo assim. Mas foi.
Acordei tarde (10.00 h) e esperei que a Mariana acordasse. Acordou a chorar e agarrada à perna, a dizer que lhe doía o joelho. Espreitei e vi uma escoriação recente e mais nada de especial. Pensei que talvez fosse a perna dormente. Não liguei, mas a verdade é que não parou de se queixar. Não queria levantar-se e eu para averiguar se ela tinha mesmo a dor disse-lhe que a deixava comer um ovinho da Páscoa. Levantou-se logo mas assim que pôs o pé no chão, chorou. Começou a queixar-se da perna e não assentava bem o pé no chão. Encolhia também os dedos e esfregava a perna.
Deixei passar mais um bocado e ela continuava assim. Não queria sequer que lhe tocasse. Como não tinha carro era suposto a D. I. me ir buscar, liguei-lhe a pedir ajuda. Ela confirmou que ela estava muito queixosa daquela perna/pé.
Decidi ligar para o saúde 24 para não estar a chatear o meu médico de família. A pediatra só está de tarde (e nem sabia se hoje estaria) e não queria mandá-la para o infantário assim. E pensei logo que se ligasse para a Saúde 24 e tivéssemos que ir a algum médico, mandariam um fax antes, o que tornaria tudo mais rápido.
Liguei e depois das 530 perguntas normais, entre as quais qual era a perna que lhe doía (respondi esquerda e a Mariana é que me disse que era a direita. Oh my God, a minha filha sabe a direita e a esquerda melhor que eu...), a enfermeira disse-me que não tinha sistema e que entraria em contacto comigo uns minutos mais tarde.
Depois de muito esperar lá ligou (ainda me perguntou se lhe podia perguntar à Mariana se tinha o pé dormente ou se sentia formigueiro. What? Ela tem 2 anos...). Perguntou-me também 10 vezes se sabia onde tinha feito a escoriação do joelho. Respondi-lhe outras tantas que não sabia porque não tinha dado por nada. Que a escoriação era tão pequena que se ela não se tivesse queixado daquela perna nem teria ligado.
Foi muito atenciosa e decidiu enviar-me para o SAP mais próximo que não é onde temos o médico de família.
Chegámos antes do fax e depois chegou a mana Rita, para tomar o lugar da D. I.. Algum tempo depois, lá consegui fazer a inscrição (que a sra do atendimento não parava lá muito tempo). Entretanto nunca mais me disseram nada do fax e decidi perguntar se já tinha chegado. Já, mas estava debaixo de um monte de papéis.
Muito tempo depois (já a Mariana tinha cantado, gritado e esfregado o chão) decidi, porque já não aguentava as dores, ir perguntar pela senhora do atendimento, que tinha saído há muito, para ver se ainda demorava. Estava disposta a pegar no fax e ir a outro lado. Lá nos mandaram entrar.
É aqui que começa o filme.
O médico sem quê nem para quê, começa a perguntar-me se sei que só pelo facto de ter ligado para o Saúde 24, a consulta iria custar aos contribuintes 300 euros. Que "aquilo tem directores e sub-directores e que temos que pagar a todos". Que eles ganham 300 euros com aquela consulta e ele zero (daqui devia ter depreendido que o sr. devia ser voluntário. Para não ganhar nada...).
Na minha inocência ainda lhe disse que não era eu que tinha a culpa disso.
Continuou com essa dos 300 euros e mais umas barbaridades. Que nem sabia se o que eu tinha dito ao telefone era o que estava no fax. E começou a ler o fax em tom irónico. E a dizer que tinha aprendido na faculdade (e eu já a duvidar que ele alguma vez lá tivesse andado), que a medicina se fazia com os 5 sentidos: visão, olfacto, ... ( e aqui já eu estava a pensar se lhe dizia que também tinha andado numa dessas faculdades, se calhar até a mesma, mas pelo menos me tinham ensinado a ser educada) e que não era por fax. Calei-me.
Pediu que deitássemos a Mariana e ela que até estava caladinha começou a berrar. Ela detesta ir ao médico e em casa já tinha dito que tinha medo. Eu lá lhe expliquei que não tinha que ter medo e porquê. Parece que não valeu a pena. A minha irmã deitou-a e eu fui tentar acalmá-la enquanto ela gritava por mim e esperneava. O médico não a descalçou, não lhe palpou o pé, nem nada. Disse-me apenas que ela tinha força na perna (porque esperneou) que estava tudo bem (afinal onde estão os 5 sentidos?)
Eu ainda lhe disse que era mais quando apoiava o pé no chão. Começou naquela irritante voz monocórdica a dizer que o que ela tinha era falta de atenção. Que era apenas para chamar a atenção porque estava com um problema psicológico por não lhe darmos atenção. A minha irmã passou-se logo e começou a dizer que se ia embora. Que íamos ao médico de família. Pedi -lhe que saísse porque estava mesmo interessada em ouvir o resto do diagnóstico. Ainda disse mais umas barbaridades no seguimento desta mas eu disse "Bom dia e obrigada" e ele calou-se.
Nem queria acreditar que tinha ouvido aquilo. Que ele, pelo tom de pele da cara da minha filha (sim porque ele não viu mais nada a não ser o tom de pele da cara, só estava preocupado com os 300 euros), decidiu ali na hora que o diagnóstico eram problemas psicológicos. Aos 2 anos. Numa miúda que se esfarrapa toda e nunca se queixa. Numa miúda que é descrita por todos como feliz e bem disposta. Que canta a toda a hora. Que sorri por tudo e por nada.
Acusou-me de não lhe dar atenção. Só pode não me conhecer.
Pedi o nome do médico na recepção porque quero fazer queixa. Nem sou muito dessas coisas. Mas ele passou todos os limites. Ficaram reticentes em dar-me o nome dele. Lá deram.
Mas a prioridae era sair dali e ver o que se passava com a minha filha. Foi o que fizemos, por entre lágrimas e dores. Não conseguia acreditar que tinha ouvido aqueles disparates todos. Chorei todo o dia como há muito tempo não o fazia. Ainda não estou recomposta.
Não consigo compreender estas pessoas. Talvez veja o mundo de uma forma diferente das outras pessoas, mas a mim apetece-me chamar-lhe a "insignificante bestinha".

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5 Comments:

At 24/4/08 00:42, Anonymous Anónimo said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 24/4/08 00:43, Anonymous Anónimo said...

Eu não sei se este meu comentáeio vai ou não ajudar mas tenho de fazê-lo. Não consigo ir deitar-me sem dizer qualquer coisa. É absolutamente indecente! Inqualificável. Eu teria tido amesma reacção que tu, a de nem sequer ser capaz de me passar totalmente com o homem, tal seria o choque.

Eu sei que estás a passar uma fase frágil e complicada por causa da gravidez da Matilde e de tudas as preocupações que elas te estão a fazer mas, minha querida, duas coisas muito importantes que eu quero dizer-te: a primeira é que, obviamente, nem se põe em questão se a Mariana é feliz ou não. Isso nem sequer entra na equação, nunca, mas nunca duvides do poder do teu instinto e se ele te diz que a tua filha é feliz, é porque ela é. Basta olhar para a cara dela, por fotografias e sem nunca a ter visto como é o meu caso para isso ser um dado adquirido, uma certeza. A outra coisa inmportante é a queixa que deves fazer. Pede ajuda ao Pedro, às manas, a quem quiseres e puderes, conta-lhes o que se passou e eles que te ajudem a redigir algo para não teres mais essa preocupação em cima. Mas faz alguma coisa. Que grande besta.

Pronto. Desculpa se exagerei mas é revoltante. =(

Um beijinho para ti.

 
At 24/4/08 10:40, Blogger MHelena said...

Que grande &%$#/%! (não consigo reagir de outra maneira, desculpa.) Não deixes passar em branco. Faz queixa. Um beijo enorme

 
At 24/4/08 11:12, Blogger Mãe das Marias said...

Acho que fazes muito bem em reclamar desse valente filho da p****!

Beijos

 
At 24/4/08 12:19, Anonymous Anónimo said...

Inacreditável!!!!
Grande anormal!!!!
reagis-te como eu acho que reagiria numa situação dessas, uma pessoa fica tão em estado de choque que até fica sem palavras...
Mas sabes é nestas alturas de devemos puxar pela formação académica sem dó nem piedade. Se tu lhe tivesses dito que tal como ele também eras médica, de certeza que o parvalhão mudava de atitude, aposto.
Cristina

 

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