terça-feira, outubro 23, 2007

Ideais políticos

Desde pequena que via reuniões lá em casa. Sabia que eram de qualquer coisa de política. Era demasiado nova para perceber. Sabia que a minha mãe não partilhava exactamente as mesmas ideologias do meu pai. Ou então gostava de o "picar". Cresci. Ganhei o gosto pelos trabalhos que se faziam lá na terra. Os convívios, os rallys papers, as reuniões, os trabalhos, as campanhas, etc. Habituei-me a lutar por melhorar a minha terra. A discutir projectos. Perdi bastante tempo a magicar ideias. Tanto como a executá-las. Arranjei muitos amigos. Suámos muito. Discutimos muito. Zangámo-nos muito. Mas também aprendemos muito. Trabalhámos muito.
Fiz parte de uma lista distrital do conselho político. Tive vários cargos na lista juvenil da freguesia. Movia-me o gosto de ajudar. A ideologia do partido. O meu pai que me entusiasmava e me punha a" trabalhar".
Quando ele partiu, ainda fiz parte das tais listas, ainda trabalhei bastante, ainda fui a convívios. Sempre com o Pedro, que por acaso estava filiado no mesmo partido (Mas não me lembro de o ver antes nem em plenários, nem em reuniões. Só sei que uma vez votou na lista concorrente da minha. Tudo bem que ainda não nos conhecíamos, mas não sei se lhe perdoo).
Depois o tempo foi escasseado e os movimentos que fui presenciando, desiludiram-me. Sempre andei por amor à camisola. Não pactuo com interesses, traições e maldizeres. Queria melhorar a minha terra. Não queria confusões.
Afastei-me. Nunca mais paguei as quotas e não voto. Há mais de dois anos que não sei de nada do que se passa. Esta semana foram ter comigo perguntar-me se tinha umas bandeiras que ia haver um jantar convívio. Que iam fazer uma homenagem ao meu pai. Não fui a esse jantar. Preferi o meu jantar semanal com a minha família.
Estava decidida a esquecer que alguma vez pertenci áquele grupo (embora continue com a minha ideologia política, claro). Hoje no trabalho um amigo pediu-me que pagasse as quotas. Mesmo que não fosse votar. Disse-me que eu era um dos símbolos da sua entrada no partido. Que se lembrava que na altura queria uma bandeira e como não havia, pediu uma ao meu pai. Ele como nunca soube dizer que não, disse-lhe que levasse uma nossa. A única que tínhamos. Mas que não nos dissesse nada a nós (a mim e às minhas irmãs).
Ri-me quando ele me contou esta cena. Consegui acrescentar que um dia quando me encontrasse com ele (com o meu pai), ajustaríamos contas acerca dessa bandeira. E prometi a esse meu amigo que sim. Que tal como ele sempre guardou aquela bandeira, eu iria continuar a pagar as minhas quotas, pelo meu pai. Tal como o meu pai gostaria.
Não penso voltar à vida activa do partido. Mas este pedido tocou-me muito. E senti-me tão perto do meu pai. Dos seus ideiais. Sei que se ele fosse vivo tudo teria sido diferente. Pela sua dinâmica, garra e vontade. Infelizmente eu não soube ser assim.

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1 Comments:

At 25/10/07 09:55, Blogger Coração de Tangerina said...

Não sei o que é lutar por uma ideologia política, nunca andei metida "nisso"!!! Mas adorei ler-te aqui e senti a energia, e principalmente o amor, profundo como o mar, pelo teu Pai!!!

Isso eu sei o que é ter saudades do Pai que sabemos que não volta dentro de momentos!!!

Um beijo de bandeira em riste

 

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