quinta-feira, julho 19, 2007

Balanço da minha vida (nestes dias)

Depois de uma fase da minha vida da qual nem gosto sequer de pensar e que muitas vezes o meu cérebro finge não ter sido minha há uns anos, passei agora por os 14 dias mais difíceis que me lembro. Não que não tenha passado já por situações muito mais complicadas, de perda de alguém, de dor, de angústia. Mas desta vez foi diferente.
A acumular anos e anos de 6 dias de trabalho por semana, muitos dias seguidos com um número de horas muito acima do normal. Claro que fui aguentando. Eu costumo dizer que aguento sempre acima do meu limite. E aguento. E também aguento o stress e a sobrecarga do meu trabalho. Porque fui eu que o escolhi. E aguento andar sempre a correr dum lado para o outro. Muitas vezes passando 8 horas ou mais sem comer. Mas aguento. E aguento estudar longe e "correr" trabalho, aulas, trabalho com o tempo cronometrado. Há 4 anos estive noutra licenciatura em que tinha que fazer meia hora de caminho e quantas vezes saí do trabalho a "correr", fui ter uma ou duas aulas prácticas e voltei ao trabalho. As noites passava-as a a fazer trabalhos e relatórios. Depois entrei para o mestrado no Porto e fazia cerca de 1000 kms só ao fim de semana. Trabalhava e estudava mas aí o estudo era mais na altura dos exames. O resto considero leitura de enriquecimento.
O ano passado, em Outubro entrei para esta pós graduação em Coimbra. Durante algum tempo ainda fui ao Porto e a Coimbra. Agora ao Porto só muito raramente. Na de Coimbra é que é preciso estudar diariamente. E eu chego a casa e quando já todos dormem (e às vezes antes disso) lá vou estudar 2 ou 3 horas. Chegou a uma altura que tinha 2 exames por semana, porque também me propus a uns exames suplementares para outro projecto que ainda é cedo revelar.
Entre trabalho, estudo, exames, organização de festas (estes últimos tempos têm sido demais)
família, problemas do trabalho para resolver (alguns bem complicados) e alguns problemas graves com pessoas da minha família que muito me tem transtornado, o corpo começou a ceder. E daí ter escrito isto:

Demasiado calada

Tenho andado demasiado calada. Das diabraduras da minha menina. Dos meus dias conturbados. Das minhas vontades. Dos nossos dias.
Dia 5 de Julho mudou a minha vida. Digo-o com alguma "vergonha" da minha fraqueza. Mas porque este diário não tem só que retratar grandes feitos, mas sim as nossas vidas, aqui estou eu a escrever mais uma página. Para que um dia mais tarde os meus filhos possam ler, sorrir, julgar ou até repudiar.
Há muito que o corpo reclamava o meu estilo de vida. Estranhas reacções, sinais e sintomas que poderiam querer dizer muito ou dizer nada. Fui analisando e fazendo o diagnóstico. Fui aliviando "as dores e as crises" como podia. Naquele dia a crise foi demasiado forte e eu estava sozinha e sinceramente pensei que não voltaria a ver a minha filha. Reagi com a adrenalina toda que tinha, como presa a fugir do predador. Ponderei e pedi ajuda. Àquele a quem tanto confio. E chorei. Chorei como uma criança. Tremi como nunca havia feito. E ouvi.
Ouvi que realmente é possível trabalhar muitas vezes 12 horas por dia durante 6 dias por semana há 6 anos, mas não a fazer o meu trabalho. Ouvi que realmente é possível estudar ao mesmo tempo que trabalhamos mas não, num mestrado e numa pós graduação destas. Ouvi que realmente é possível fazer mil kilómetros para trabalhar e estudar, mas não todas as semanas durante estes anos. Ouvi que infelizmente tenho uma família atípica que precisa muito de mim. Que sou casada e tenho uma filha a crescer. Que se não "preciso" de mimo, pelo menos devo ter disponibilidade para o dar. Que tenho amigos. Que adoro desporto, ler, viajar e neste momento não tenho nada disso. Ouvi, aquilo que sempre soube: que não posso perder a minha família. E que também tenho que fazer por isso. Porque um dia, toda a gente se cansa.
Caí em mim. Percebi que sobrevivo. Que o meu cérebro nunca pára. Já não sei ver televisão. Já não sei estar parada. Já não consigo simplesmente estar. Contemplar. Abraçar. Aquilo que sempre me deu tanto prazer.
Com uma pequena ajuda, estou a repensar a minha vida. A somar prós e contras. Com muitas dúvidas. Com muitos medos. Essencialmente com a sensação de derrota por falhar. E eu nunca me orgulho de falhar. Estou a levantar-me aos poucos desta "queda" e a tentar dar o meu melhor aos meus. A fazer mais feliz para ser mais feliz.

6 comentár

A ajuda veio na hora certa porque o corpo já não aguentava mais. Mas a verdade é que não pude ainda diminuir o ritmo, infelizmente ainda não pude alterar muita coisa. Mas com uma pequena ajuda o corpo foi ficando mais calmo. Sem aqueles ataques constantes e desproporcionados de ansiedade. Mas com uma sensação horrível. Durante estes 14 dias arrastei-me, matutei vezes sem conta em coisas insignificantes, chorei muito, tanto quanto estive apática. Dormi quando devia estar acordada. Trabalhei a fazer num dia o esforço que costumo fazer num mês. Mal vi a minha filha e o meu marido que cuidadosamnente me ampararam, apoiaram e respeitaram a minha "ausência". Pensei que nunca mais teria prazer em levantar-me, sair, viver. Passaram-me ideias malucas pela cabeça. Deixei de comer e perdi 3 kilos nesses dias. Um pesadelo. Ontem comecei a sentir-me um pouco melhor. Hoje, sem grandes euforias, sinto-me mais confiante. Ainda não como sempre fui, mas já sem aquela ansiedade desmedida. A verdade é que passei muita coisa que não devia. Pequenas coisas que nem sequer descrevo aqui mas que juntas que foram fragilizando. E nunca tive tempo para me encontrar, parar e dar o devido valor às coisas. Ponderar e repensar decisões que são sempre a mil à hora. Como a minha vida.
As mudanças radicais na nossa vida precisam de tempo. E eu cuidadosamente estou a tentar fazer aquilo que me fui mentalizando aos poucos que tinha que ser mas que nunca tive coragem. Porque para mim, abdicar de algumas coisas é sinal de fraqueza. E eu não quero ser fraca.
Talvez um dia queira apagar esta fase da minha vida, da minha cabeça. Mas hoje preciso de pensar nela como um erro para não voltar a repetir. Porque eu não sou uma máquina. Preciso de sair, divertir-me, ter prazer em viver. E quero recomeçar muita coisa de novo. Sempre ao meu estilo acelerado, mas com prioridades. E aprender a dizer não. Porque como já várias pessoas me disseram, eu sou trabalhadora, sou mulher, sou mãe, mas sou acima de tudo um pilar. O pilar da minha família. E não quero ser eu a ceder.
Hoje já é outro dia.

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17 Comments:

At 19/7/07 11:01, Anonymous Anónimo said...

Gosto de te ver assim, vais conseguir entrar nos eixos.

beijinho

Patrícia E.

 
At 19/7/07 11:03, Blogger Morena said...

Se ao menos estivesses mais perto podia ir aí dar-te um abraço e um beijinho...

 
At 19/7/07 11:17, Blogger Ana Rangel said...

Um beijinho, Patrícia. Um dia de cada vez... :)

 
At 19/7/07 11:17, Blogger Daniela said...

Há alturas na vida em que é preciso dizer "não", e dize-lo é mais um acto de coragem do que fraqueza. Continua a ser corajosa como sempre o foste e depressa verás que esta foi uma fase má que felizmente já passou.
Beijinhos

 
At 19/7/07 11:47, Anonymous Anónimo said...

É só para deixar-te um grande bj.

Sê optimista e cuida-te!

Bj Patricia+Gustavo

 
At 19/7/07 12:03, Anonymous Anónimo said...

um beijinho minha querida. Sempre contigo!

 
At 19/7/07 12:05, Blogger Xana said...

Estou a ver-te um pouco menos down. Já começaste a ver as coisas menos negras.
Eu não acho nada que abdicar de certas coisas é ser-se fraco. De todo! É ser-se inteligente e vermos que não podemos abraçar o Mundo apenas com dois braços. Como disseste não és máquina.
Pensa que vais apenas meter ordem na tua vida. Como costumo dizer ao L., nós podemos morrer amanhã, daqui a 20 minutos, ou já e se olharmos para os últimos dias, para os últimos tempos o que é que vivemos? Trabalho? O que é que aproveitámos? Que recordações os nossos filhos vão ter do tempo que passáram connosco? A vida é feita de prioridades.
Estou a ver-te a começar a caminhar, isso deixa-me feliz!

Beijinhos

 
At 19/7/07 13:13, Blogger YupiE said...

Fico feliz por tudo se estar a recompôr...
Um dia de cada vez...
Apesar de não nos conhecermos, estou aqui para o que precisares... infelizmente também sei o que estás a passar...
Muita força...
Um beijinho muito grande no teu coração...

Lília

 
At 19/7/07 14:08, Blogger Princesas Ervilhinhas said...

Leio-te com uma força renovada! Tenho certeza que vais tomar as opções certas. Pela tua familia, por ti!

Beijinhos reconfortantes,
Carla e Beatriz (21m)

 
At 19/7/07 15:15, Anonymous Anónimo said...

Ola Patricia,

POr vezes o nosso corpo, a nossa mente prega nos supresas de suportar o insuportavel, e outras de nao aguentar o que pensamos ser possivel!
Com toda a certeza iras passar por cima de tudo o que estas a passar com a força de uma lutadora que és!

Beijinhos e Força, Mónica

 
At 19/7/07 15:35, Blogger CLS said...

Nem sei o que te diga, Patrícia, é duro ler-te assim. Espero sinceramente que a tua vida vá para o ponto que desejas, mesmo que isso implique que faças algumas cedências na tua vida, que não deves encarrar como derrotas.
Um grande beijinho e, se precisares de alguém para falar, sabes onde moro e tens o meu e-mail.

 
At 19/7/07 16:37, Blogger carla said...

Parece-me que encontraste o caminho certo....se precisares dispoe!!!

Beijo

 
At 19/7/07 20:57, Anonymous Anónimo said...

Patrícia,
Ninguém, mas ninguém é de ferro, nem tu nem a tua "mania" de achar que parar é ser fraco.
Patrícia, parar é respeitar o nosso corpo, dar tempo a quem nos ama a quem nos pede um carinho.
O corpo cede, o corpo arrasta-se mesmo que a alma queira continuar.
Sabes que tens que dar tempo e espaço de manobra ao físico, não sabes?
Sabes que o stress cega-nos, não sabes?
Sim sabes porque estás neste momento da tua vida a sofrer uma mutação, uma mutação interior, e minha kida, mesmo que agora te esteja a doer, a custa horrores passares por ela, mais tarde ira sentir o sabor da paz.
Estás numa fase de nascimento, agora irás aprender a fazer pequenas coisas, das quais nem sabias que existiam ou sequer que era possivel as fazeres.
Ter uma família é amor, sim, mas é feito por atitudes, por momentos, por tempo, tempo em família, Patrícia.

Vi nas tuas palavras muito sofrimento, senti que não te estás a encontrar, mas é só mais um bocadinho, acredita que parar, reflectir e escolher não são das coisas mais fáceis de se fazer nesta vida, mas são sem dúvida nenhuma essenciais para se saber viver, e não minha kida sobreviver que era aquilo que andavas a fazer.

Sobrecarregaste-te demais e arrastaste contigo aqueles que mais amas, aqueles que estão sempre lá, aqueles que anseiam um pouco do tempo que teimas em usar só para ti.

Não se consegue chegar a tudo, não!
Há que escolher, há que saber fazer uma coisa de cada vez, usufruindo capazmente de tudo.

Não és nenhuma fraca, e por favor encontra em ti a justificação para o que te estou a dizer.
Nunca em tempo algum durante estes meses todos em que te leio, me pareceste uma mulher fraca.

Parecias uma mulher que lutava para se encontrar, estudava e estudava queria sempre ser mais e melhor, para quem?
Para quem Patrícia? é essa a resposta que te irá ver que és uma lutadora e não nenhuma fraca!

A vida é feita de escolhas.
Não te deixes cair, se precisares pede ajudar sim, não te deixes cair!!

Jinhos muito grandes e sempre estarei aqui, ok? para qualquer coisa, sabes onde me encontrar!

Fica bem e cuida-te!
(desculpa o testamento)

 
At 19/7/07 21:00, Anonymous Anónimo said...

adenda:
em momento algum disse que eras má mãe, ouviste? nunca!!!
estava a falar para a Patrícia mulher, aquela que se está a recompor, ok?

Muita força!!!!

 
At 19/7/07 22:28, Blogger titinha said...

mais uma vez olá!
por vezes abdicarmos de certas e determinadas coisas em prol da nossa saú de e daqules que mais nos amam (e que compreendem sempre as nossas atitudes)não quer dizer que somos fracas por desistir, só que há alturas na nossa vida em que é preciso abrandar o ritmo, só isso!
neste momento tens que ter força para recuperar fisica e emocionalmente e o trabalho e o estudo podem esperar um bocadinho!
lembra-te que tens uma familia maravilhosa que te ama muito e que precisa de ti sempre e que neste momento está a torcer por ti!!
eu por aqui também acredito que vais superar este periodo menos fácil da tua vida e que vais sair dele uma pessoa mais forte, porque ao contrário do que pensas desistir não quer dizer que sejamos fracos, mas que precisamos de repensar certos aspectos da nossa vida!

e não te esqueças que "o que não nos derruba torna-nos mais fortes"

muito beijinhos e muita, muita força para ti

 
At 20/7/07 13:02, Blogger Kika e Inês said...

Bem, fiquei assustada com o que li, e eu que também sou Mamã de uma menina de 2 anos que faz as mesmas tropelias que a tua...
Mas, Querida é preciso saber parar e olhar o horizonte sem estar a projectar nada, só olhar!!!
Acredito que tudo vai mudar para melhor é preciso dar tempo ao tempo!!!

Um beijo de Mamã para Mamã!!!

 
At 20/7/07 20:43, Blogger Tia Moky said...

Força, Patrícia!

Beijos

Moky

 

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