quarta-feira, junho 20, 2007

Da interpretação das crianças

Um dos parâmetros de crescimento das crianças que sempre me fez confusão foi a sua compreensão. Penso sempre que são demasiado novas para entender isto ou aquilo. Como se as crianças aos seis anos fossem demasiado novas para aprender a ler ou como se para as de dois fosse um desafio demasiado exigente aprender as cores. Daí que cada fase de aprendizagem da Mariana seja visto para mim como uma vitória. E pense muitas vezes que as crianças nos surpreendem nas suas capacidades.
Por exemplo eu pensava que as crianças viam televisão mas não percebiam nada do que viam. Há uns meses atrás tive a prova que não era assim. O Pedro ia fazendo perguntas à Mariana de episódeos que ela ia ver novamente:"Então, o que é que o Noddy vai fazer agora?"
"O futão" (Um foguetão).
"Muito bem. E quem é que também vai fazer o foguetão com o Noddy?"
"O ussinho" (Ursinho)
"Muito bem. E mais?"
"A acaca" (A Macaca)
E ela lá ia respondendo às perguntas sem se enganar. Vezes sem conta antecipava os factos e dizia-nos quem ia aparecer ou o que ia acontecer. Hoje em dia responde-nos com ainda mais facilidade a estas perguntas.
Outro exemplo: ela tem um cd que ouviu uma carrada de vezes mas que depois foi "ultrapassado" pelo da Leopoldina e andou muito tempo esquecido. Um dia destes pediu novamente para o ouvir. E não é que se lembra da ordem das músicas e antecipa-as cantando antes delas começarem?
Outra coisa que me fazia impressão era se eles percebiam as letras das músicas visto que há muitas palavras que eles não conhecem o significado. Há uns meses, o Pedro desligou o Cd da Leopoldina quando ela estava a "cantar" na ilha das...
E a Mariana prontamente: "maés" (marés).
O fim de semana passado arranjei-lhe umas letras magnéticas que vão dando para diversas actividades consoante a idade dela. Neste momento podem dar para ela associar a contagem com o número de objectos ou para sedimentar a aprendizagem das cores. Mais tarde darão para ela aprender mesmo as letras.
E eu estava a dizer-lhe "Olha um nê de" , ao que ela diz prontamente: "Inêsse" (Inês). O que achei engraçado foi nunca termos falado nada acerca das letras e ela fazer aquela associação. Bem sei que não acertou, mas percebeu que o som era idêntico. E estas pequenas coisas surpreendem-me nas crianças. Tanto com a minha sobrinha ter feito um livro com desenhos e onde escreveu uma história para os anos da Mariana (claro que a minha mãe lhe ia ditando as letras, que a criança ainda é muito nova para escrever sozinha). Intriga-me onde as crianças vão buscar tanta imaginação para uma história. E como associam símbolos às mais diversas ocasiões.
Se para mim já existe o milagre da vida, existe um outro que não me deixa menos fascinada: o da aprendizagem.