segunda-feira, julho 25, 2005

Uma aventura na maternidade (cont.)

Como tinha dito, não queria ficar lá sozinha. Era a nossa 2ª noite e na primeira nem sequer tinha fechado os olhos. Nessa noite (sexta para sábado) chegou o terceiro bebé ao nosso quarto. A maternidade estava a abarrotar. Soube mais tarde que estavamos no piso das cesarianas porque já não havia mais camas no outro piso. O bebé que tinha nascido não parava de chorar. A Mariana continuava muito caladinha e adormecida. Nessa noite começou a aprender a mamar um pouco melhor. A enfermeira disse para eu lhe dar enquanto ela quisesse e como pedia sempre, estive da uma e meia da manhã às cinco quase ininterruptamente a dar-lhe leitinho. Fiquei supercansada e com o mamilo quase em ferida. Ela é muito preguiçosa mas a minha inexperiência fez com que acatasse tudo o que me era dito pelas enfermeiras. Conclusão: mais uma noite e eu só dormi perto de uma hora. Aliado a este cansaço de já não dormir desde quarta feira, juntou-se a hemorrogia para a qual eu continuava a tomar medicação. Estava de rastos. Logo de manhã chegou uma enfermeira mais velha, nada simpática com a maluca da auxiliar que me queria roubar a arrastadeira. A Mariana, o V. e o A. iam tomar o primeiro banho. Nós as mães preparámos as coisas e a enfermeira para não perder tempo, pesou os bébes, mediu e deu-lhes banho. A Mariana perdeu peso (passou de 3030 kgs para 2740 Kgs). Ao medir ela estava a chorar e a espernear e a enfermeira não a conseguiu esticar. Fiquei superenervada. Para a enfermeira era igual se ela media 40, 50 ou 60 mas para mim não. Eu queria saber quanto ela media ao certo. Embora eu tivesse levado uma fita e já tivesse visto que media à volta de 47 cms a enfermeira anotou 45,5cms. A minha menina era pequenina mas também não era tanto. Aliado ao meu cansaço, esta falta de rigor e a brutidade com que foi explicada a forma de preparar as coisas e dar banho fez-me enervar de tal forma que passei o resto da manhã a chorar. A auxiliar começou a perguntar-me porque estava a chorar mas uma enfermeira que passou lá comentou: " Chore que lhe faz bem, para deitar tudo cá para fora". Era o que eu precisava. Não queria que me perguntassem nada. E continuei a manhã inteira. Quando falei com o Pedro estava inconsolável. Estava no limite do meu cansaço. Chegou uma vez mais a hora das visitas e a Mariana decidiu "acordar" e começar a chorar. A minha menina que nas primeiras 24 horas mal tinha aberto os olhos, não chorava (nem mamava) estava agora a berrar e eu não sabia o que lhe havia de fazer. Uma amiga minha (obrigada Inês) que me foi visitar despiu-a (estava muito calor) pegou nela e ela acalmou um pouco. Coloquei-a no meu peito e ela ficou sossegada. Recebi a visita da minha madrinha (fazia anos nesse dia) e tio, prima Filipa( com a A. C. na barriguinha linda) e Ricardo e o Cirilo para além das habituais. A mãe do V. passou a tarde a chorar e era o seu 3º filho. Afinal parece que é normal chorar... Eu tinha aberto as hostes, ela continuou... Quando chegou a hora de terminar a visita, o Pedro e a mana Vera disseram-me para pedir para ir embora no domingo. A Mariana tinha nascido às 2.30 de quinta para sexta, logo, sexta era o dia do nascimento e não contava como dia de internamento embora tivesse lá passado o dia inteiro. Só iria embora na segunda. Nessa noite tive a sensação que não conseguiria aguentar mais tempo naquela maternidade. Ao contrário das outras noites, a maternidade estava em silêncio e a Mariana não se calava. Peguei nela e andei pelos corredores para ela acalmar. Passei a noite nisto. Só me perguntava a mim própria porque é que só ela é que chorava. Que tinha eu feito mal? Nas outras noites só ouvia bebés e naquela só se ouvia o MEU bebé. Não me deixou pregar olho. Chorava, mamava (ainda mal), chorava, tinha cólicas. Desesperada, cansada, nervosa e com saudades de casa pedi à enfermeira para ir embora no dia seguinte. Disse-me que ia passar a mensagem ao médico quando ele viesse para dar as altas. Nessa noite, estimulou-a com um cotonete e ela lá expulsou mecónio e descansou um pouco. No outro dia (domingo), na mudança de turno das enfermeiras, a enfermeira, passou a informação às colegas. Começaram em tom irónico a dizer que tinha que assinar o termo de responsabilidade mas que mesmo assim o pediatra podia não dar alta. Mas que a obstetra provavelmente daria. Como se eu fosse para casa sem a minha menina. A enfermeira velha perguntou-me se era eu que queria ir para casa e enquanto eu me preparava para responder, disse secamente: " Estou a falar consigo". Seguiu-se o primeiro banho (dado por mim) à Mariana e ela foi pesada. Engordou 24 gr. Enquanto esperava para eu tomar banho ouvi a enfermeira velha a dizer ao pediatra que "A senhora da cama 21 quer ir embora hoje". O pediatra respondeu que assinava o termo e podia ir. Pareceu-me bruto. Uma enfermeira mais nova olhou para mim e disse: " Mais nada. Assina e pode ir embora." Não sei se ela me conheceu, mas eu disse-lhe que estava cansada e que em casa tinha ajuda do Pedro. Comecei a chorar. Era o cansaço e o desespero a falar mais alto. A enfermeira disse-me que compreendia e que provavelmente na minha situação faria o mesmo mas que tinha que compreender a posição do hospital. Não se podiam responsabilizar porque o protocolo daquele hospital era o internamento de 72 horas.Eu ia passar mais tempo porque a Mariana nasceu logo de madrugada. Compreendia isso tudo mas estava cansada, alterada. Quando a enfermeira velha passou eu disse-lhe que não tinha dito que me queria ir embora da maneira como ela transmitiu ao pediatra e que tinha sido mal educada comigo. Pediu-me desculpa e perguntou: " Que é que eu disse? Desculpe se falei mal. " A partir daí as coisas mudaram. O pediatra meigamente disse-me que ia observar a Mariana, que se estivesse tudo bem lhe dava alta mas que eu tinha que assinar o termo porque havia problemas que poderiam surgir após as 48 horas ( como icterícia, sépsis, etc) e ele e o hospital não se podiam responsabilizar após a alta. Que sabia que havia hospitais no país que o internamento era de 48 horas. "Percebe mãe?" Percebi tudo. Ele foi supercompreensivo. Era isso que eu estava a precisar. De compreensão e mimo. Porque as mães também precisam de mimo. São muitas alterações e muitas horas sem dormir. Disse-lhe que compreendia e que queria o melhor para a minha menina. Não queria prejudicá-la e ia aguentar mais uma noite. Embora soubesse que estava no meu limite. Era o primeiro esforço pela minha filha. Sabia que este seria só um dos muitos, que vou encontrar ao longo da nossa vida. E embora agora me pareça insignificante, na altura foi um sacrifício. O pediatra disse-me que tinha feito a escolha acertada e fez-me um miminho na mão. Nunca vou esquecer o seu apoio. Veio a obstetra toda despachada. O pediatra tinha acabado de sair e eu ainda estava a chorar. Perguntou-me ( muito meiga também) o que tinha. Contei-lhe a história toda. Em tom maternal disse: " Claro que não vai embora. Vai é pedir para ficar mais tempo. Aqui descansa e em casa não. Eu dos meus 2 filhos tinha alta e pedi para ficar mais um dia." (Soube mais tarde que ela estava grávida do 3º). Disse-me que eu precisava era de descansar e desabafar. Disse o mesmo às enfermeiras e no mesmo tom acelerado foi embora depois de olhar para mim com um olhar meigo e de confiança. Foi um amor e nunca vou esquecer o que fez por mim. A noite seguinte ia provar-me que ela estava lá para nos ajudar. Até a auxiliar maluca me disse que ia estar lá a noite toda e que se eu quisesse podia ir ver televisão para me entreter e que me ajudava com a menina. O Pedro, a mana e a prima Sívia ligaram a saber se iria embora naquele dia. Respondi apenas que tinha decidido ficar. Chegou a hora das visitas e para além das habituais, a prima Sílvia com o Manel e as meninas. Nessa tarde pareceu-me que a Mariana estava amarela. A enfermeira disse que ela, o V. e o A. estavam um pouco mas que era fisiológico. Fiquei descansada. Chegou a hora de acabarem as visitas e tentei mentalizar-me que já faltava pouco embora o cansaço continuasse. Faltava pouco para ir embora mas estava pessimista em relação à noite. As manas, mãe e o Pedro estavam no Dolce Vita a jantar e só me apetecia pegar na Mariana, fugir e ir ter com eles. Ou então pedir ao Pedro para passar lá novamenbte e eu descer para estar com ele. Não lhe pedi. Pensei que ele não quisesse mas fiquei a pensar nisso. Como uma criança que quer muito um brinquedo. Contive-me. Eles foram para casa e estive a trocar mensagens e telefonemas com o meu amor. Eram sms lindas e de encorajamento. Foram uma grande ajuda naquele momento. Naqueles três dias passei muito tempo ao telefone a receber telefonemas e mensagens mas mesmo assim sentia-me só. Claro que a minha filha me fazia companhia. Adorava ficar a olhar para ela. Só isso me fazia aguentar ali. Nessa noite a Mariana teve muitas cólicas porque ainda não tinha expulso todo o mecónio. Chorava muito. Avizinhava-se outra noite daquelas... Mas , na troca de turno a enfermeira velha apareceu e perguntou porque é que ela estava a chorar. Eu disse-lhe que ela tinha cólicas. A outra enfermeira disse para eu a estimular. "Isso é o que ela passa os dias a fazer" disse a enfermeira velha. " Dê cá a menina, que eu trato dela. Durma um pouco que eu já lha trago." Deixaram-me dormir 4 horas. Tinham posto bebegel à Mariana (que expulsou o resto do mecónio) e tinham-lhe dado 30 ml de leite adaptado para eu descansar. Sei que foram ordens da obstetra mas a verdade é que a enfermeira bruxa velha e má se transformou num anjo. Acordei parecia outra, superdescansada. Percebi nessa altura que elas estavam lá para ajudar. Eu devia ter pedido ajuda mas não faz parte da minha maneira de ser. Quero ser uma supermulher. Mas também nunca antes me tinha sido oferecida ajuda. Para a próxima vez já sei. Também é por isso que ficamos internadas e não vimos logo para casa. De manhã demos banhinho e os bébes foram pesados. A Mariana engordou 26 gr. Vestimos uma roupinha linda para sairmos e ela foi vista pela pediatra. Estávamos prestes a apresentar o mundo à Mariana.

5 Comments:

At 25/7/05 16:49, Blogger Natércia Charruadas said...

Nem consigo imaginar o que terás passado, sozinha e cheia de dúvidas. Realmente quando estamos tão fragilizados é importante a maneira como nos tratam. Fizeste a opção correcta, ao escolher ficar e isso mostra o quanto amas a tua bébé.

 
At 25/7/05 20:59, Blogger Inês said...

Ola!
Eu sou muito chorona e chorei com o teu relato, acho q qdo for a minha hora, tb vou chorar imenso...
Parece q previ o q se irá passar comigo...
Eu tb tenho a mania de tentar ser supermulher e depois rebento em lágrimas.
foi bom ler a tua história, qdo chegar a minha vez, vou saber q o q estiver a sentir é normal e n tenho de ter vergonha, são muitas emoções juntas!!
Acho q fizeste muito bem em ter ficado, os sacrificios pelos nossos filhos , compensam sempre!!!
Bjs
Ines

 
At 26/7/05 10:06, Blogger Diana Bento said...

Olha eu também choro que me farto. Então agora que estou grávida, há alturas que fico tão sensível que qualquer coisa é suficiente para desatar num pranto. Nem quero imaginar como vai ser depois do meu piolho nascer e me vir sozinha... bem, mas depois conto.

Mas fizeste bem em ter ficado. Começo a perceber que somos capazes de tudo para o bem dos nossos filhos.

Beijinhos.

 
At 29/7/05 09:59, Blogger Clara said...

Ainda bem que acabou bem... de realçar é o facto de toda a gente passar pelo mesmo, não importa hospital, médico, enfermeira... penso que o aglomerado de emoções é tanto que nos tira as forças.
Definitivamente ainda não encontrei nada de concreto sobre o pós-parto e pouca gente fala do assunto. Aí sim, começa a aventura da maternidade...

 
At 14/8/05 15:08, Blogger Licas said...

Olá!
Ao ler o teu "relato" só me lembrava do que se passou comigo. A Inês nasceu numa 3ª-feira mas eu já estava internada desde a 5ª feira anterior por causa de suspeitas de pré-eclâmpsia, por isso, apesar de ter sido super-bem tratada estava já mesmo muito farta de hospital. Na sexta-feira quando pensava que ia ter alta, durante a manha, na hora dos banhos, a enfermeira disse que a Ines estava um bocadinho amarela, que provavelmente já não saia naquele dia. Foi o suficiente. Não consegui controlar mais as noites mal dormidas, o cansaço, etc, não parei mais de chorar. Felizmente foi só um susto e viemos as duas para casa nessa sexta.
1 bjx

 

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