sábado, julho 09, 2005

O parto

Como que a adivinhar que o momento se aproximava, na noite de quinta feira(dia 30) sonhei pela primeira vez com a cara da minha princesa e acordei com umas contracções. De manhã dediquei a manhã à minha princesa ( seria o meu primeiro dia de descanso e iria meter baixa no dia seguinte- dia 1). Tomámos um banho relaxante, cantei para ela, conversei bastante com ela e fiz aqui no blog um pequeno resumé da minha gravidez. Ainda fui trabalhar de tarde (mas só um pouquinho) e fui à consulta. O médico com um ferro enorme deu-me o tal "jeitinho" visto que com os dedos era impossível devido à localização posterior do meu colo. Disse-me que não saberia se resultaria nalguma coisa mas para ligar dia 6 caso a Mariana não tivesse nascido. Não me marcou nova consulta: estranhei sair dali sem consulta marcada. Estaria a minha Mariana para nascer? Não acreditei muito que estivesse para breve. Apostava mais no fim de semana. Saí da clínica às 20.15 e decidimos ir jantar fora para aproveitarmos os últimos dias para namorar. Saímos em direcção à praia da Vieira mas decidimos ir jantar às Paredes. Parámos em S. Pedro para tirar fotos. Jantámos e passámos a casa da minha mãe. Quando cheguei a casa e me sentei ao computador, senti um líquido quente e húmido a correr pelas minhas pernas sem eu controlar. Eram 23h25m. Olhei para o líquido que era ligeiramente rosado. Estaria tudo bem? Soube que não faltaria muito. Chamei o Pedro. Estava na hora de ir para o hospital. Lembro-me de ter ficado ligeiramente desiludida por não poder fazer algum trabalho de parto em casa. Tinha imaginado o começo das contracções, meter-me na banheira, o papá Pedro a fazer massagem e quando tivesse contracções de 10 em 10 minutos ir para o hospital. Mas não havia dúvidas: saco roto era indicação imediata para ida. Estava calma mas enquanto tomava um duche as pernas tremiam. O Pedro acalmou-me: "Não estejas nervosa. Vai tudo correr bem". Enquanto preparava as ultimas coisas para sairmos e tirava as últimas fotos de grávida, ligámos às manas. A Vera queria ir connosco. O Pedro perguntou se íamos para Coimbra. Claro que sim, a esta hora em Leiria não havia epidural... Meia hora depois estávamos no carro com a mana Vera toda stressada a perguntar:"Mas vocês não estão nervosos? Eu estou toda stressada. Estás tão calma. Não tens dores?" A verdade é que não tinha. Sentia apenas a barriga muito rija ( como de há uns 2 dias para cá). Ligámos aos familiares mais chegados pelo caminho. A meio do caminho comecei a ter dores. Iniciei a respiração. Íamos conversando os 3 no intervalo das minhas contracções que estavam já de 3 em 3 minutos. Lembro-me de ter alguma vontade de fazer força por estar sentada e ter medo de não chegar a tempo ao hospital. Confirmava intervalo de contracções de 3 minutos. Pelo caminho algo muito grande e preto(???) bateu-nos no carro. Pensei que não chegaria a Coimbra mas afinal não foi nada de especial. O caminho não me pareceu muito longo mas a verdade é que chegámos 1 hora depois (como normal). A mana foi pedir uma cadeira de rodas mas quando cheguei esperavam-me uma funcionária, uma enfermeira e o segurança. A enfermeira disse que eu estava muito sorridente. Podia ir a pé. As dores apertavam. Sentei-me a responder a um questionário e à 1h 10 m entrei numa sala para ser observada já com alguma dificuldade para me despir. Estava com 4 para 5 cms de dilatação. Perguntei se podia levar epidural. A médica que era um amor disse ao colega para escrever 4 cms para a anestesista ainda me dar a epidural. Vesti-me novamente e respondi a novas questões. Perguntaram-me qual era na escala de dor , o valor que eu sentia. Respondi 4. Enquanto subia no elevador para a sala de dilatação lembro-me de pensar no valor 6 na escala de dor. Vesti uma bata e deitei-me. Ia fazendo a respiração enquanto me ligavam a soro, CTG, monitorizção cardíaca, etc. Era 1h 40 m. O enfermeiro era um doce. Deixava-me respirar entre as contracções e só exclamava: "Estas são das boas (as contracções), nem é necessário dar ocitocina, só lactato." Entenda-se que serem boas era por serem fortes. Continuei a respiração mas com muitas dores. Não dizia nada mas lembro-me de pensar num 8 na escala de dor. À 1h 55m começaram a dar-me a epidural. A anestesista era também superquerida. Disseram-me que a epidural iria demorar cerca de 20 min a fazer efeito mas que iria começar a sentir as contracções menos prolongadas. A verdade é que estavam cada vez mais juntas. Já não tinha intervalos para descansar. Fui observada novamente às 2h 05m. Tinha a dilatação completa. Podia começar a "puxar". A médica já via a cabecita com cabelos pretos. Pedi para chamarem o Pedro. As dores continuavam fortes. Chegou o Pedro. Ajudou-me a fazer força. Primeiro de lado porque ela estava rodada. A médica rodou-a e disse-me para aguentar porque custava um pouquinho. ( O que é que não custava naquela altura?). O Pedro só me dizia que estava a ser muito forte, que me estava a portar bem, que era linda e acariciava-me. Foi muito importante o apoio dele. A médica incentivava-me a dizer que estava a fazer tudo muito bem, que merecia uma medalha. Senti-me confortada. Comecei a sentir o efeito da epidural e vi a médica a ir buscar qualquer coisa: forceps ou ventosa. Não me assustei. Sabia que estava em boas mãos. A minha filha estava encravada nos meus ossos. Com uma ventosa (soube mais tarde) foi puxada. Senti um alívio e a barriga a esvaziar. Não ma colocaram no peito porque ela começou a chorar. Eram 2h35 m. Levaram-na para a salinha ao lado enquanto eu era suturada. A médica disse-me para no próximo filho ir de véspera e no 3º ir 15 dias antes por ter sido tudo tão rápido. Nunca pensei. Imaginava-me 12 ou mais horas ali a sofrer. A equipa foi impecável. Tão calmos e tão meigos. Agradecemos à médica. Disse que não tinha feito nada de especial. Claro que tinha: tinha trazido a minha filha ao mundo. Segundo o Pedro, eu nunca disse um ai, nem me queixei. Parece que fiz bem o meu papel. Ainda mal tinha visto a minha menina mas era mãe. Foi um momento violento mas mágico.

2 Comments:

At 10/7/05 12:36, Blogger Natércia Charruadas said...

Fiquei com lágrimas nos olhos!
Beijinhos aos três

 
At 10/7/05 16:53, Blogger Susie said...

Adorei ler este relato...faz-me lembrar o meu prórpio parto há pouco mais de duas semanas. é tão bom quando tudo se desenrola assim depressa, não é?
Muitos parabéns e toda a felicidade do mundo para os três!

Su
www.nove-meses.blogspot.com

 

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